domingo, 20 de maio de 2012

Tão branco e tão raso


Foi um tempo branco, repetidamente lavado nas próprias mãos
Desviando a transparência do rosto para a noite
Um tempo branco muito diferente da verdade
Muito diferente das estrelas que se apagam
Foi um tempo muito branco
Mais doloroso do que os olhos sempre abertos no escuro
Inimaginável quando pus de fora a cabeça , as mãos
— tendo deposto o que trazia nelas —
O corpo todo
E saí como um paralítico depois do milagre
Na forma de quem grita por socorro
Foi um tempo branco porque era mudo
E não havia nenhuma palavra que pudesse apagá-lo
Um tempo tão manso como um lobo que não morde
Um tempo tão branco
Tão raso
Saí como um coxo que caminha sobre o tempo tão liso
Tão branco
Que pensei que era um muro aquele tempo estar ali
E bati contra ele como uma badalada que demora
  E era branco, um som que nunca ouvi

  Daniel Faria