segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Talvez seja Natal

 
 
Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
  num presépio, num prédio, num presídio
  no prédio que amanhã for demolido...
  Entremos, inseguros, mas entremos.
  Entremos e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.
Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
  Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
  De mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
  talvez universal a consoada.



David Mourão-Ferreira