sábado, 28 de dezembro de 2013

Esta noite


Hoje podes deitar-te na minha cama e contar-me mentiras - dizer, não sei, que o amor tem a forma da minha mão ou que os meus beijos são perguntas que não queres que ninguém te faça senão eu; que as flores bordadas na dobra do meu lençol são de jardins perfeitos que antes só existiam nos teus sonhos; e que na curva dos meus braços as horas são mais pequenas do que uma voz que no escuro se apagasse. Hoje podes rasgar cidades no mapa do meu corpo e inventar que descobriste um continente novo - uma pátria solar onde gostavas de morrer e ter nascido. Eu não me importo com nada do que me digas esta noite: amo-te, e amar-te é reconhecer o pólen excessivo das corolas, o seu vermelho impossível. Mas amanhã, antes de partires, não digas nada, não me beijes nas costas do meu sono. Leva-me contigo para sempre ou deixa-me dormir - eu não quero ser apenas um nome deitado entre outros nomes.





Maria do Rosário Pedreira